Crônicas de Istambul: Há algo diferente no ar da cidade

20160520_133513Istambul – 24/11/2016 – Há um clima estranho no ar aqui em Istambul, talvez pela falta de turistas, ou pela apreensão em relação à segurança e ao cerco contra a imprensa.

Não sei bem, mas observo que há algo diferente. Apesar de a economia do país crescer em média 3,5% neste ano, observo que o comércio está meio devagar. Embora as ruas de Istambul estejam cheias de gente, e os shoppings e centros comerciais idem, o que se vê são lojas e mais lojas sem clientes, apenas os funcionários parados, aguardando algum comprador. Sem falar nos restaurantes, que também estão fechando.

Livro E-book Caminhos Cristãos

No shopping center Cevahir, no bairro de Sisli, um dos mais movimentados da cidade, há grandes redes fechando, como a famosa C&A e a Esse, loja de artigos para casa.

Talvez seja um dos reflexos da falta de turistas, cujo número caiu mais de 60% desde a ocorrência dos atentados na cidade, e da permanente ameaça de novos ataques – aliás, hoje cedo aconteceu novo atentado em Adana, no sul da Turquia, deixando mortos e feridos.

Além do medo das pessoas virem para a Turquia após a tentativa de golpe contra o Estado, em julho passado. Por outro lado, tem também a censura à mídia que, de certa forma me interessa muito. Por ser jornalista, veja como é difícil para meus colegas trabalharem aqui.

Quando cheguei, em 2014, eram mais de 230 veículos de comunicação. Após o golpe este ano, o governo fechou mais de 130 e prendeu dezenas de jornalistas e diretores de jornais e emissoras de televisão.

O mais recente foi aqui perto de casa. Os diretores do jornal de oposição Cumhuriyet (República) foram presos no início de novembro e a rua onde se localiza ficou fechada durante vários dias, com dezenas de policiais guardando o local, pois sempre havia algum protesto contra o fechamento.

E protesto é o que não falta por esses lados. Semana passada manifestantes foram às ruas porque o governo propôs uma lei que permitia suspender as condenações por abuso sexual de menores que não tenha acontecido à força, sob ameaça ou também se o agressor se casasse com a vítima, conforme noticiou a mídia local. Em outras palavras, a vítima, além de ter sido abusada, corria o risco de ter que casar com seu agressor.

Mas graças à Deus, o projeto de lei foi cancelado depois de ter provocado uma onda de protestos de diversas entidades civis turcas e internacionais, que argumentam que a lei prejudica a luta contra o abuso sexual e o casamento infantil, muito comum no interior do país.

Assim é a vida na Turquia, essa mistura de acontecimentos, alguns surpreendendo outros nem tanto.

Livro E-book Caminhos Cristãos

Compartilhe:

Deixe comentário