Antioquia: uma viagem ao passado
Conhecer o lugar onde o apóstolo Pedro começou a divulgar o evangelho é realmente um privilégio
Istambul – 28/02/2019
Por Silvana Coelho
Se aventurar pela Turquia é apenas uma questão de tempo. Tempo para preparar o roteiro e encarar algumas horas de viagem. Mas dessa vez decidimos ganhar tempo viajando de avião até a primeira cidade e depois fazer os demais trajetos de carro. Aproveite as dicas e faça uma boa viagem!
Nossa opção, em uma programação de 13 dias, foi partir de Istambul em direção a Antakya (Hatay), depois seguir de carro para Gaziantepe, Adyiaman e Sanliurfa (também conhecida como Urfa), voltando dessa cidade para Antakya e, daí seguir de avião para Antália. Em cada cidade uma história, uma ruína, um costume. É uma viagem que nos remete a um passado cheio de histórias e aos profetas bíblicos. Por isso, eu convido o leitor a nos acompanhar por esses lugares, cada um mais interessante do que o outro.
Antakya/Hatay
Nossa programação começou no dia 14 de outubro, quando voamos de Istambul em direção a Antakya, na província de Hatay. A cidade de Antakya era conhecida como Antioquia (fundada no ano 300 a.C.) nos tempos bíblicos e teve papel importante para o Cristianismo. Por ela passaram o apóstolo Paulo, em uma de suas viagens missionárias; o apóstolo Pedro que viveu e propagou o Evangelho na região, tornando-se bispo da cidade; e foi local onde os seguidores de Jesus foram chamados de ‘cristãos’ pela primeira vez. É um local cheio de significado bíblico, que nos leva a refletir sobre a vida deles, geralmente cheia de privações, perseguições etc.
A Igreja de São Pedro está no alto de uma montanha, onde no início era apenas uma gruta e local em que os primeiros cristãos se esconderam fugindo da perseguição romana. É uma das mais importantes ??do mundo e foi declarada local de peregrinação pelo Papa Paulo VI, em 1963. Desde então, todos os anos, em 29 de junho, a igreja organiza cerimônias e recebe a visita de centenas de pessoas de todas as religiões.
Daí seguimos para o Museu Arqueológico da cidade, com um rico acervo de peças de diversas épocas desde a antiguidade e lindos mosaicos. Circulando pelas ruas de Antakya, encontramos uma igreja católica no bairro em que, segundo o padre local, o apóstolo Paulo viveu nas redondezas. Entrando pelas vielas, encontramos um mercado cheio de lojinhas e restaurantes e cafés, onde se come muito bem. Para quem gosta de doce recheado com queijo, vale experimentar o Künefe, típico da região.
Gaziantepe
No dia 16, saímos de Antakya em direção a Gaziantepe, cerca de 190 km de distância. A chegada em Gaziantepe (foto) foi sob um céu escuro por causa da poeira vinda da Síria, que fica a 50 km de distância. Antes de chegar na cidade passamos pelo rio Eufrates, onde paramos para tirar fotos.
Os principais pontos turísticos de Gaziantepe são o Castelo do período romano, o museu Zeugma com inúmeros mosaicos muito bem conservados (o mais famoso é o Gypsy Girl), alguns inclusive têm efeito tridimensional (3D). Há ainda o Museu de Arqueologia com muitas peças encontradas na Turquia (conhecida com o Ásia Menor na antiguidade) e os passeios a pé pelo centro da cidade, onde se pode conhecer a culinária local. Aliás, muito cuidado, a comida é saborosa, mas muito, muito apimentada. E por onde se anda na cidade é possível ver os pimentões secos nas lojinhas, os temperos e o doce típico, o baklava.
Monte Nemrut
No dia 18, partimos para o Monte Nemrut, região de Adiyaman, onde estão estátuas gigantes feitas durante o reinado de Antíoco I entre 64 e 38 antes de Cristo para que ele fosse venerado. O monte tem 2.200 m de altura e os 500 últimos metros são feitos por uma calçada de pedra. Haja fôlego, mas vale a pena pois a vista é linda, especialmente para ver o pôr-do-sol. As estátuas estão dentro de um parque na região de Karadut e, logo no início da subida, há um pequeno hotel que facilita a vida de quem não quer dirigir à noite, mas se conseguir se programar, vale a pena ir para a região onde estão os melhores hotéis.
Sanliurfa (Urfa)
No dia 19, partimos de Khata em direção a Sanliurfa, cerca de 160 km de distância. Nesse trajeto fomos surpreendidos não apenas pela paisagem cheia de montanhas sem muita vegetação, mas por outro trecho do rio Eufrates (Firat, em turco), que nasce nas montanhas da Turquia e segue em direção ao Iraque. Paralelamente a ele, também com sua nascente em terras turcas, está o rio Tigre, ambos descritos na Bíblia.
Dessa vez, descemos até a margem do rio para tocar suas águas límpidas e geladas. Para mim, foi algo muito simbólico, afinal, ele é citado no livro bíblico de Gênesis. Esse rio nasce nas montanhas da Turquia e segue cortando a Síria em direção ao Iraque, correndo paralelo ao rio Tigre, que deságua no Golfo Pérsico. A região onde estão os dois rios é conhecida como Mesopotâmia, uma das mais importantes da antiguidade. Ali que se desenvolveram várias importantes civilizações. Também é conhecida como “crescente fértil”, onde acredita-se seria o local do Jardim do Éden.
Sanliurfa é considerada pelos muçulmanos como o local em que viveu o profeta Abrahão. Mas de acordo com o livro bíblico de Gênesis, ele seria originário em Ur dos Caldeus (hoje Iraque). Mas na cidade pode-se ver, por exemplo, o Balikligol (também chamado de tanque de Abrahão), cheio de peixes considerados sagrados. Segundo a imprensa turca, Sanliurfa é um dos principais destinos turísticos do mundo entre as principais religiões monoteístas.
GobekliTepe
Bem, depois de um delicioso e variado café da manhã turco, seguimos em frente para irmos até o sítio arqueológico de GobekliTepe, a 15 km de Sanliurfa. No meio do caminho, uma parada para ver as mulheres colhendo algodão e uma pausa para as fotos com elas, todas sorridentes. Ao saber que eu era brasileira, me deram um galho com algodão recém-colhido. Voltando a Gobeklitepe, que tem cerca de 12 mil anos, é possível ver o que seria o Templo mais antigo do mundo. Esse é, sem dúvida, um sítio arqueológico importante pois é mais antigo do que as pirâmides do Egito, que tem 7 mil anos, e as pedras de Stonehenge, com 6 mil anos.
Em 20 de outubro, seguimos de Sanliurfa para Antakya, cerca de 350 km de distância. Dalí voamos para Antália, onde se pode ver o Portão de Adriano, de onde sai uma rua estreita e charmosa com muitos restaurantes e lojinhas. O Museu de Antália tem muitas relíquias arqueológicas que merecem ser vistas.
Perge (antiga Perga)
No mesmo dia foi possível visitar ainda a cidade de Perge, a 15 km de Antalya. Perge foi uma importante cidade grega na região da Panfília, também conhecida como Perga, onde o apóstolo Paulo iniciou sua primeira viagem missionária por este local, junto com Barnabé. O sítio arqueológico impressiona com ruínas muito bem conservadas, como a do teatro, da rua colunada, da Ágora com as colunas das antigas lojas ainda de pé e da basílica.
Side
No dia seguinte, partimos para Side, cidade fundada em 1405 antes de Cristo. Ainda hoje é possível ver as ruínas greco-romanas bem conservadas do antigo teatro. Mas surpreendente mesmo é seguir por uma rua de comércio até o final, onde nos deparamos com o Templo de Atenas e Apolo, à beira-mar, impressionando com suas colunas de mármore branco.
Aspendos
Por fim, a última parada do roteiro foi a antiga Aspendos, cerca de 50 km de Antália. Aspendos foi uma cidade portuária e ainda hoje preserva muitas ruínas, como a do teatro e do aqueduto. Ao final do roteiro, embarcamos de volta a Istambul, mas já pensando nas próximas viagens por essa Turquia maravilhosa, cheia de história e beleza natural!