Nepal mergulha em protestos e Perseguição religiosa

Manifestação contra corrupção e proibição às redes sociais mergulha o Nepal no caos.

Nepal localiza-se entre a China e a Índia / Reprodução de internet

Por Silvana Coelho – 11/09/2025

Neste início de setembro, o Nepal viveu uma das maiores ondas de protestos de sua história recente. O país, encravado entre as potências Índia e China, viu suas ruas se transformarem em palcos de revolta, violência e clamor por mudança. O que começou como uma reação à proibição de redes sociais se tornou um movimento nacional contra a corrupção, desigualdade e repressão.

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Por que estão ocorrendo as manifestações?

O estopim da crise foi a decisão do governo de bloquear 26 redes sociais, incluindo Facebook, Instagram, YouTube e WhatsApp. A justificativa oficial era a falta de registro dessas plataformas no país, o que violaria novas regulamentações voltadas ao combate de abusos online. No entanto, para a população — especialmente os jovens da chamada Geração Z — a medida foi vista como censura e tentativa de silenciar críticas ao governo.

A indignação rapidamente se transformou em revolta. Protestos tomaram as ruas de Katmandu e outras cidades, com milhares de manifestantes exigindo o fim da corrupção e mais oportunidades econômicas. A taxa de desemprego entre jovens ultrapassa os 20%, e cerca de um terço da população vive abaixo da linha da pobreza.

A repressão foi brutal: mais de 30 mortos, centenas de feridos, prédios governamentais incendiados, e até a renúncia do primeiro-ministro Sharma Oli. O exército foi mobilizado e o país vive sob toque de recolher.

Qual é a religião predominante no Nepal?

O Nepal possui uma rica diversidade religiosa, mas o hinduísmo é a fé predominante, praticada por cerca de 81% da população. O budismo também tem raízes profundas no país — afinal, foi no sul do Nepal que nasceu Siddhartha Gautama, o Buda.

Outras religiões presentes incluem:

  • Islamismo (cerca de 4,4%)
  • Cristianismo (entre 1,4% e 5%, dependendo da fonte)

Apesar de o país ser oficialmente secular desde 2008, após o fim da monarquia hindu, o hinduísmo ainda exerce forte influência cultural e política.

Cristãos no Nepal

O Cristianismo chegou ao Nepal em 1628 com missionários jesuítas, mas só teve presença mais duradoura a partir de 1715 com os padres capuchinhos. Após a unificação do país em 1769, missionários foram expulsos e proibidos até 1950.

A partir daí, com abertura gradual, igrejas cresceram, apesar da perseguição, especialmente nas décadas de 1970 e 1980. Com a secularização do Estado em 2008, houve maior liberdade religiosa, embora o evangelismo ainda seja restrito. Hoje, o Nepal tem mais de um milhão de cristãos, muitos deles dalits e ex-hindus, que enfrentam forte pressão social e religiosa.

Estima-se que existam entre 1,4% e 5% de cristãos no país, incluindo católicos, evangélicos e adventistas. No entanto, a vida para esses fiéis é marcada por desafios e perseguições.

Perigos enfrentados pelos cristãos:

  • Rejeição familiar e comunitária: especialmente para convertidos do hinduísmo
  • Leis anticonversão: desde 2017, é ilegal tentar converter alguém de outra religião, o que limita a liberdade religiosa
  • Ataques e prisões: igrejas domésticas são frequentemente alvo de violência e cristãos já foram presos ou expulsos de vilarejos
  • Aproveitamento da instabilidade política: radicais hindus intensificam ataques durante períodos de crise

O Nepal ocupa a 54ª posição na Lista de Países em Observação da organização Portas Abertas, que monitora a perseguição religiosa no mundo.

Como os cristãos estão se organizando no Nepal

  1. Redes de oração
  • Cristãos de várias denominações estão se unindo em redes de oração, tanto presencialmente quanto por meios alternativos (como chamadas telefônicas e aplicativos de mensagens que ainda funcionam).
  • A missão Portas Abertas relatou que líderes locais estão pedindo orações específicas pela paz, pela proteção dos fiéis e pela sabedoria do governo.
  1. Abrigo e apoio mútuo
  • Igrejas domésticas estão servindo como refúgios temporários para cristãos que foram expulsos de suas comunidades ou que estão em risco.
  • Há relatos de famílias cristãs acolhendo outras que perderam suas casas ou foram ameaçadas por extremistas hindus.
  1. Distribuição de alimentos e ajuda humanitária
  • Parceiros locais de organizações cristãs estão distribuindo alimentos, água e itens básicos para comunidades afetadas pelos protestos e pela repressão.
  • Mesmo com recursos limitados, há um esforço coletivo para garantir que ninguém fique desamparado.
  1. Fortalecimento espiritual
  • Líderes cristãos estão promovendo encontros de encorajamento e estudos bíblicos, reforçando a fé e a esperança em meio ao caos.
  • Muitos compartilham testemunhos de perseverança, como o de Kabita Khatri que, segundo a ong Portas Abertas,  disse: “Perdi meu relacionamento familiar e muitas outras coisas quando aceitei a Cristo. Mas sempre senti a presença de Deus em minha vida. Ele proveu minhas necessidades e me manteve segura”.

A situação continua delicada. Igrejas não tradicionais e convertidos do hinduísmo são os mais vulneráveis. A legislação anticonversão de 2017 ainda está em vigor, e há risco de prisões e ataques. Por isso, muitos cristãos estão agindo com discrição, mas sem perder a fé.

Um apelo por paz

Em meio ao caos, líderes cristãos locais pedem orações pela paz e pela proteção dos fiéis. A crise atual não é apenas política — é também espiritual e social. O Nepal enfrenta o desafio de reconstruir sua governança, restaurar a confiança da população e garantir os direitos de todos os seus cidadãos, independentemente de sua fé.

Oremos pela povo do Nepal para que a paz seja restabelecida e parem as perseguições contra os cristãos.

 

 

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