Como o Cristianismo chegou ao Japão

Por Silvana Coelho – 02/01/2024

O Cristianismo entrou ao Japão no início no século 16, quando os portugueses chegaram ao país para estabelecer o comércio entre esses dois povos.

Templo budista
Templo budista no Japão / Arquivo Pessoal: Silvana Coelho

O terremoto ocorrido no Japão no primeiro dia de 2024 me fez lembrar dos dias em que passei no país há cerca de 5 anos e por isso resolvi escrever sobre a influência cristã e como o Cristianismo chegou ao Japão. O Japão é um país moderno, desenvolvido, onde a população é extremamente educada a ponto de se curvar quando fala com outra pessoa, seja no trem, nas lojas ou na rua. Isso é fruto da importância que os japoneses dão para os estudos desde a infância.

Entretanto, senti de abordar neste post um pouco sobre a religião no país. Embora o Japão seja um país em que predomina o Budismo e o Xintoísmo, a religião cristã também está presente entre os japoneses, apesar de ser em menor número. Numa pesquisa rápida pela internet, descobri algumas informações interessantes sobre a chegada do Cristianismo no Japão.

O Cristianismo entrou no Japão com os portugueses por volta de 1543, quando estes chegaram ao país do sol nascente numa empreitada mercantilista, mas levando consigo muitos jesuítas da Companhia de Jesus. Os navios portugueses chegavam ao Japão levando mercadorias para serem negociadas e, também, a fé cristã.

Consta que certa vez um jovem japonês de nome Yajiro, acusado de cometer um crime, se refugiou em um templo budista onde estava hospedado um português de nome Jorge Alvarez. Os dois fizeram amizade e Jorge permitiu que Yajiro embarcasse em seu navio para fugir do Japão. O navio parte para Goa, na Índia, onde ficava a sede cristã portuguesa no Oriente.

Curioso, Yajiro foi aprendendo sobre o catolicismo e Jorge recomenda que o jovem se encontre com Francisco Xavier, líder da Companhia de Jesus. Mas esse encontro demorou e só aconteceu tempos depois, em 1544, na Malásia. Houve uma simpatia entre eles e Yajiro quis ser batizado para se livrar da culpa pelo crime que havia cometido. Aliás, ele foi o primeiro japonês a receber o batismo cristão.

O Cristianismo em Macau, colônia portuguesa na China

Nessa época, a China também estava se abrindo para o comércio europeu, mas não para o Cristianismo. Como Francisco Xavier queria abrir uma porta no Oriente para o Cristianismo, ele enviou Yajiro para lá. Porém, o jovem nascido no Japão já falava português teve seu nome trocado para Paulo Santa Fé. Isso nos faz lembrar de Saulo de Tarso e quando se converteu ao Cristianismo passou a usar o nome de Paulo.

Yajiro serviu como tradutor em Kaboshima, no Japão, e o intercâmbio comercial e religioso se intensifica. Como o Japão tinha interesse comercial com a Europa, não houve muita resistência quanto a nova religião. Francisco Xavier chegou a converter ao Cristianismo cerca de 500 japoneses em apenas dois meses. Aos poucos os jesuítas portugueses foram para Kyoto e depois para Nagasaki, onde o Cristianismo local se firmou a partir da conversão dos japoneses mais graduados. Porém, logo depois chegaram os franciscanos e tentaram ganhar espaço junto a população japonesa.

A expansão do Cristianismo no Japão

Fachada da igreja
Igreja Católica no Japão / Reprodução de Internet

O líder militar Oda Nobunaga, responsável pela unificação do Japão, sabia que o comércio com os portugueses era importante para o país e por isso não se incomodou com a influência do Cristianismo na região, que acabou ganhando mais adeptos. Sabe-se que 30 anos depois, em 1579, chega o padre Alessandro Valignano para checar como estava os trabalhos dos jesuítas e constatou que cerca de 300 mil pessoas haviam se convertido.

E os trabalhos da Companhia de Jesus se expandiu, ajudando crianças e jovens. Além disso, apostavam na educação e foram criados seminários para jovens de 10 a 18 anos, em que era ensinado também o latim e o português.

Em 1582, forma-se a Missão Jovens Cristãos em que quatro jovens foram escolhidos especialmente para irem à Europa para conhecerem o Ocidente e o mundo cristão, onde se encontraram com papas, reis e a elite da época. Após oito anos, eles voltariam para o Japão trazendo uma máquina tipográfica para que pudessem expandir as informações bíblicas.

Entretanto, nessa época o general Oda Nobunaga morre e outro assume o lugar e parece não ser muito favorável à fé cristã e determinou a expulsão do primeiro missionário cristão. Em 1589, chega ao país a máquina tipográfica e começa a produção de material em português, latim e japonês. E a perseguição aos cristãos se intensifica.

A chegada de outras ordens cristãs ao Japão

Em 1600, começam a chegar à região os franciscanos e dominicanos, vindos de Manila, na Malásia, em um navio holandês liderado pelo inglês William Adams. A partir daí começa a dominação não apenas do comércio, mas também da religião por parte de ingleses e holandeses.

Nessa época assume o líder xogun Tokugawa que se interessou pelos holandeses e ingleses. William Adams, que era protestante, tornou-se conselheiro dele levando-o a ser contra os portugueses. Com isso, teve início a perseguição aos cristãos católicos que eram torturados e mortos ou precisavam negar sua fé. Aqueles que optaram por manter sua fé, mantinham sua prática às escondidas e eram chamados de Cristãos Clandestinos ou Kakure Kirishitan.

Em 1596, houve a crucificação de 26 mártires em Nagasaki. Todavia, em 1612 o Cristianismo foi proibido nas terras do Xogunato e depois em todo o Japão. No ano 1614, mais de 300 missionários jesuítas foram expulsos e a produção literária foi perdida. Entretanto, a catequese continuou graças aos padres japoneses que haviam se convertido anos antes.

Ano após ano, a perseguição aumentou e muitos ficam na clandestinidade, como os Cristãos Clandestinos. Em Kyoto, muitos foram queimados e decapitados, outros eram obrigados a negar Jesus. Hoje, já não existe essa perseguição, mas o número de cristãos no Japão não passa de um por cento da população que é de cerca de 125 milhões de pessoas.

 

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