A mágoa é um sentimento que está presente na vida das pessoas independentemente da época e, segundo o dicionário Houaiss, significa tristeza, amargura e ressentimento. O ser humano em sua trajetória de vida muitas vezes se sentiu magoado por causa de alguma situação ou por causa da atitude de alguém.

A mágoa é um sentimento profundo que atormenta o indivíduo durante toda sua existência. Há pessoas que ao se sentirem feridas não conseguem esquecer aquela situação que provocou a mágoa e, como conseqüência, não consegue perdoar a quem o ofendeu. Há diversas razões que podem gerar uma mágoa profunda numa pessoa, como uma palavra ofensiva, mentiras, acusações injustas, infâmia e, principalmente, a fofoca. Quantas vezes vimos nossos nomes envolvidos em fofocas as quais não nos dizem respeito, fomos envolvidos por maldade alheia à nossa vontade.

Desta mágoa o indivíduo passa a sentir um sofrimento muito grande, que pode prejudicá-lo para o resto de sua vida em função dos traumas que acarreta. Não podemos guardar nossas mágoas e prolongar este sofrimento. A mágoa gera outros sentimentos tão ruins quanto ela própria, tais como a tristeza, a raiva, o ódio e a infelicidade.

A fofoca

Sem dúvida, a fofoca talvez seja a situação que mais nos deixa magoados, especialmente se for dentro de nossa própria igreja. A fofoca é uma leviandade que pode causar estragos enormes, causando muita mágoa e amargura nos corações. Em Efésios 4:31, Paulo exorta que toda a amargura seja retirada de nossos corações. Em Atos 8:22-23, Pedro nos exorta ao arrependimento quando estamos amargurados. Em Romanos 3:13-14, Paulo diz que: com a língua urdem enganos; eles têm a boca cheia de amargura.

Nestas citações fica claro que precisamos tirar toda a amargura que sentimos e que tomemos cuidado com nossa língua, pois ela pode ferir nosso irmão, deixando-o magoado. Em Tiago 4:11, a maledicência é condenada: “irmãos, não faleis mal uns dos outros”.

Ressentimento

O ressentimento também causa tantos estragos quanto a mágoa, que citamos anteriormente. Segundo o dicionário Aurélio, a palavra ressentimento vem do verbo ressentir, que quer dizer sentir novamente, sentir profundamente, magoar-se. O ressentimento é a sensação de mágoa que persiste por muito tempo após o fim de uma determinada situação.

Observamos hoje de forma acentuada que todos, em algum momento de nossas vidas, passamos por esta situação de sentir mágoa ou ressentimento. Entretanto, cabe a nós mesmos darmos o devido tratamento a esses sentimentos, quanto mais tempo gastarmos falando do que causou esses sentimentos mais ficaremos angustiados e sem enxergarmos uma solução para o problema. É aí que o aconselhamento pastoral pode ser muito útil, pois as pessoas que compartilham suas frustrações e angústias tendem a lidar melhor com a mágoa e o stress.

Não podemos guardar as mágoas e ressentimentos do passado. Em II Coríntios 5:17 diz que “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”.

E não podemos deixar que nossa percepção do tempo presente possa ser distorcida pelas mágoas e ressentimentos do passado. Precisamos ter capacidade de reagirmos contra estes sentimentos. Observamos que em todas as esferas da sociedade existem ressentimentos e mágoas, até na política nacional brasileira.

O ressentido, segundo Nietszche

O filósofo alemão listou algumas características que permitem identificar um ressentido, segundo o artigo. Confira:

O ressentimento dirige-se contra alguém ou alguma coisa;

O ressentido tem contas a ajustar;

Para o ressentido, o desejo de vingança é suficiente;

O ressentido acredita que sua infelicidade resulta do erro de outra pessoa;

O ressentido não sabe amar, mas quer ser amado;

Para poder sentir-se um homem bom, o ressentido precisa acreditar que os outros são maus.

Raiva e ódio

Com tantos problemas, frustrações e injustiças por que passam os seres humanos nesta sociedade cada vez mais individualista e egoísta é até normal a existência de sentimentos como a mágoa e o ressentimento. Assim como é normal o sentimento de raiva e ódio. Porém o que não é normal é deixar que qualquer um deles ocorra em grande intensidade. É preciso, então, reduzir a carga emocional que eles acarretam para evitar um sofrimento maior.

A mente de Cristo no século 21

A monografia “La Mente de Cristo em el siglo 21, (A mente de Cristo no século 21) de Maria G.H. de Chiquie, da Bolívia, chama a atenção para o fato de que “debemos comprender que si no son sanadas nuestras amarguras, pedonadas nuestras culpas y comprendidos nuestros trauma, tampouco podremos ser um bálsamo refrescante para quienes servimos”.

Versão: Devemos compreender que se não são saradas as nossas amarguras, perdoadas as nossas culpas e compreendidos os nossos traumas, tampouco poderemos ser um bálsamo refrescante a quem servimos.

A autora quer dizer que precisamos ter nosso coração e nossa mente completamente limpos, sem amarguras, mágoas, ressentimentos ou traumas para que possamos servir aos irmãos. Segundo ela, “um dos passos na busca de saúde, libertação, felicidade e estabilidade de nossos corpos e mentes se encontra em aperfeiçoar-nos como indivíduos e termos força para superarmos as nossas próprias limitações, neuroses e traumas”.

Hebreus 12:15 faz uma exortação à paz e à pureza… “atentando diligentemente por que ninguém seja faltoso, separando-nos da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando vos perturbe…”.

Perdão

Apresentamos neste trabalho diversos aspectos acerca da mágoa e do ressentimento que tanto prejudicam os membros das igrejas. Uma palavra dita no momento errado, da forma errada; uma atitude impensada; uma discussão sem fundamento; um chefe perseguindo um funcionário ou um nazista perseguindo um judeu.

Enfim, tudo isso (e muito mais) é motivo para levar uma pessoa a se sentir magoada, amargurada, com o coração contrito, precisando de ajuda. Para que sejamos curados e libertos dessas amarras e viver uma vida em comunhão com Deus temos que conceder o perdão. Claro que não é fácil perdoarmos aqueles que nos tem ofendido. Mas o perdão nada mais é do que “conceder a remissão de qualquer ofensa, sem exigir nada em troca”.

Jesus ensinou que devemos perdoar. Se perdoamos; somos perdoados (Mt 6:12-14-15). A falta de perdão pode custar caro, mantendo-nos em escravidão, abrindo uma brecha para Satanás operar. Se retivermos o perdão a um irmão que nos tenha magoado, não somos merecedores de perdão por parte de Deus e estaremos sujeitos a contendas e discórdias (Mt 18:34-35; CL 3:13).

A Liberação do perdão

A liberação do perdão depende tanto de quem cometeu a ofensa quanto de quem foi ofendido e ambos devem pedir perdão ou liberá-lo. Caso contrário, a separação entre as pessoas sempre permanecerá. Aliás, após a liberação do perdão deve-se esquecer a mágoa ocorrida. Em Isaías 43:25 diz que “o senhor não se lembra de um pecado perdoado”. Por isso não devemos ficar relembrando mágoas passadas.

A Cura Interior e o trabalho pastoral

Muitas vezes uma pessoa cristã se vê presa a situações ocorridas no passado e que lhe causaram muita mágoa, tristeza, sofrimento, depressão e, conseqüentemente, muita raiva. Ela se torna cativa desta situação porque não consegue entender que precisa perdoar a quem lhe magoou.

Esse processo pelo qual todos nós um dia já passamos ou iremos passar faz com que nos libertemos das amarras de Satanás, que só quer nos ver presos e angustiados. Entretanto, é preciso reagir e só conseguiremos mudar essa situação se nosso interior for mudado. Mas essa mudança só ocorrerá a partir do momento em que colocarmos Jesus em nosso coração e passarmos a viver de acordo com a palavra de Deus. Somente Deus poderá curar nossas feridas para que sejamos pessoas sãs, em qualquer mágoa no coração, sem qualquer sentimento negativo que afete nossa alma.

Estamos falando de cura interior que só o Senhor pode nos dar. Devemos abrir nossa mente e nosso coração para essa cura, que nos fará passar por transformações profundas, libertando-nos de qualquer experiência passada que nos tenha colocado num cativeiro tanto espiritual quanto psicológico.

Vivemos numa época caracterizada pela complexidade de idéias e comportamentos, muitos dos quais não muito recomendáveis, causando mágoas profundas, ansiedade, medo, incertezas, etc. e que nos leva a pensar que chegamos ao fundo do posso. Mas não é bem assim, podemos nos libertar destas amarras com muita oração e deixando Deus agir em nossas vidas.

Romanos 12:2 diz que: “e não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Por isso é necessário um processo de cura interior, para que nos transformemos em pessoas melhores.

conclusão

Ao atender um caso em que a pessoa guarda alguma mágoa que esteja levando-a ao sofrimento, o conselheiro pastoral precisa ter em mente que esta pessoa, em primeiro lugar, quer se abrir, desabafar, partilhar suas mágoas.

Em I João 1:9 diz que: “Se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda a injustiça”. Por isso, o conselheiro deve aconselhe esta pessoa a perdoar, livrando-a de suas angústias e ressentimentos. Deve orar com ela para que Jesus possa modificar seu coração e acompanhar seu caso, como forma de ver o resultado desse trabalho.

Como foi citado anteriormente, guardar sentimentos negativos podem causar doenças, por isso é importante trabalhar com o aconselhando no sentido de fazê-lo entender que é preciso se desligar desses sentimentos para que possa ter uma vida saudável.

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